Mitos e factos sobre o jejum intermitente
Mariana Abecasis
Nutricionista
Cada vez mais ouvimos falar em jejum intermitente e nos seus benefícios (ou não) como regime alimentar. Mas será que sabe o que é o jejum intermitente e como deve ser aplicado? A moda do jejum está cada vez mais presente e cada vez mais pessoas procuram fazer um jejum de 12, 14 ou 16 […]

Cada vez mais ouvimos falar em jejum intermitente e nos seus benefícios (ou não) como regime alimentar.

Mas será que sabe o que é o jejum intermitente e como deve ser aplicado?

A moda do jejum está cada vez mais presente e cada vez mais pessoas procuram fazer um jejum de 12, 14 ou 16 horas.

O que é que acontece ao nosso corpo e ao nosso metabolismo quando estamos em jejum?

O corpo humano é muito bem feito e, quando saudável, está programado quer para se compensar depois de uma refeição, bem como para se auto equilibrar num período de jejum.

De uma forma simplista, quando comemos libertamos uma hormona – a insulina – que tem um efeito anabólico, ou seja, faz com os nutrientes (não utilizados) sejam armazenados no nosso corpo para serem usados mais tarde, num período de carência – fazendo uma reserva natural no nosso corpo, sob a forma de gordura – a chamada gordura corporal.

Por outro lado, quando em jejum, é libertada uma outra hormona – o glucagon/ glucagina – que tem um efeito contrário à insulina e “vai buscar nutrientes às nossas reservas de gordura” e disponibiliza-os ao nosso organismo para serem usados como fonte de energia.

Nesse sentido a hormona do jejum, tem um efeito positivo no nosso organismo, uma vez que favorece a perda de gordura corporal.

Contudo, quando em jejum prolongado o nosso corpo leva à formação de corpos cetónicos (“elementos compensatórios deste jejum”), que em excesso têm um impacto negativo e tóxico para o corpo.

Assim, o nosso organismo está feito quer para passar por períodos de jejum, quer para ser compensado com momentos de fornecimento alimentar. E haver um equilíbrio entre estes dois pontos é essencial.

Então como deve ser feito um jejum?

Considero que fazer um jejum noturno de 12 horas, é perfeitamente razoável e equilibrado e um hábito que a maioria das pessoas deveria pôr em prática.

É um bocadinho voltar às origens! Jantar cedo quando o sol se põe, dormir cedo e ao acordar recomeçar um novo dia, juntamente com a alimentação!

Não há qualquer necessidade de fazermos grandes refeições noturnas, nem de comer a meio da noite!

Nesse sentido concordo com os jejuns noturnos e considero-os perfeitamente equilibrados nutricionalmente.

Contudo, muitas vezes não é isto que assisto na minha prática clínica.

Como é feita a dieta do jejum intermitente?

A dieta do jejum intermitente defende que deve ser feito um jejum de 16 horas.

O que pressupõe fazer uma primeira refeição por volta das 8h-9h e parar de comer às 17-18h. Ou jantar por volta das 20-21h e só voltar a comer às 12 ou 13h do dia seguinte.

Enquanto nutricionista, considero que seria mais equilibrado e orgânico fazer uma alimentação mais completa ao longo da primeira metade do dia e ir reduzindo ao longo da tarde e noite, terminando com um jantar leve e cedo.

Contudo não é isso que vejo que acontece na grande maioria dos casos.

Vejo muitas pessoas que praticam o jejum de 16 horas, mas que passam grande parte do seu dia ativo sem comer, para depois concentrar tudo entre a tarde e a noite, acabando por fazer grandes refeições à noite, geralmente com escolhas alimentares menos corretas, porque se sentem descompensadas depois de dia de jejum.

De uma forma ou de outra, defendo que o mais importante é a pessoa sentir-se genuinamente adaptada e sentir-se bem física e psicologicamente, de forma a seguir uma linha alimentar que lhe permita fazer escolhas equilibradas, sem esforço.

Porque tentar seguir um regime de jejum para aderir a uma moda e depois descompensar física e emocionalmente e acabar por fazer escolhas alimentares de pior qualidade, acaba por ser mais prejudicial do que benéfico para a saúde.

Quem pode fazer jejum?

O meu conselho é avaliar caso a caso, e ter sempre em atenção quer a parte física, quer a parte psicológica e emocional de quem deseja aderir ao regime de jejum intermitente.

Desde que não haja nenhuma contra-indicação clínica e de saúde e que uma pessoa se identifique e se sinta bem física, energética e emocionalmente, poderá ser uma opção saudável fazer jejum intermitente.

No entanto é importante ressaltar! Fazer jejuns, por considerar um método saudável, e depois fazer más escolhas alimentares é igualmente um tipo de alimentação desequilibrado e pouco saudável!

Com ou sem jejum, as nossas escolhas alimentares devem assentar em alimentos de verdade, mais ricos nutricionalmente, mas não mais ricos em calorias “vazias”.

O jejum ajuda na perda de peso?

O jejum pode ajudar inicialmente a perder alguns quilos, mas não é considerado um método efetivo de na perda de muito peso, porque depois dos primeiros quilos perdidos há uma tendência para entrar num patamar de estabilização.

Os estudos mostram que a médio e longo prazo não há diferenças significativas entre uma dieta dita tradicional e um regime de jejum intermitente, no que toca à perda de peso.

E toda a gente pode fazer jejum sem riscos?

Ou há contra-indicações neste regime?

Mais uma vez reforço, é fundamental personalizar e avaliar caso a caso.

No entanto pessoas que sofram de doenças como diabetes, resistência à insulina, síndrome metabólica, certos problemas gástricos, mulheres grávidas e crianças não devem fazer jejuns prolongados. Bem como pessoas que sofram de doenças do comportamento alimentar, sofram de depressão ou que não se sintam totalmente estáveis psicológica e emocionalmente.

Assim, apesar de alguns benefícios, não é um tipo de alimentação que deva ser adotado por qualquer pessoa.

Importante lembrar!

Com ou sem jejum, o mais importante é procurar ter um aporte calórico total balanceado e adaptado às reais necessidades de cada um e fazer escolhas alimentares saudáveis.