A pandemia da obesidade oculta
Nutricionista
Vivemos numa época em que a tecnologia roubou o lugar à atividade física, aliando-se ao sedentarismo.

Vivemos numa época em que a tecnologia roubou o lugar à atividade física, aliando-se ao sedentarismo.

Estamos a assistir a uma adoção de estilos de vida cada vez mais sedentários, como o aumento do número de horas passadas em frente aos ecrãs logo desde a primeira infância. Paralelamente, os maus hábitos alimentares têm vindo a ser adotados numa fase cada vez mais precoce. A falta de tempo no dia a dia favorece o maior consumo de snacks ricos em sal, açúcar ou gordura e alimentos de elevada densidade energética.

A obesidade continua a ser a doença mais prevalente em todo o mundo e Portugal encontra-se entre os cinco países europeus onde a sua prevalência é mais elevada. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é a pandemia mundial do século XXI.

O excesso de peso, que inclui a pré-obesidade e a obesidade, é provavelmente o principal problema de saúde pública em Portugal, afetando mais de 50% da população adulta, sendo considerada uma doença crónica e ao mesmo tempo um fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças crónicas que constituem as principais causas de mortalidade e morbilidade. A obesidade define-se como uma situação em que existe uma acumulação excessiva de massa gorda corporal, com potencial impacto negativo na saúde.

A investigação epidemiológica documenta de forma consistente a associação entre o excesso de peso e o risco acrescido de incidência e agravamento de múltiplas patologias. Sem retirar relevância a nenhuma das comorbilidades, o risco de incidência da diabetes tipo 2 e das doenças cardiovasculares têm particular relevância em Portugal. Doenças, que no seu todo, representam a principal despesa em saúde do estado português e o principal encargo do Serviço Nacional de Saúde.

Na literatura, existe um consenso de que a etiologia da obesidade é bastante complexa, apresentando um caráter multifatorial. Envolve, portanto, uma gama de fatores, incluindo os históricos, ecológicos, políticos, socioeconómicos, psicossociais, biológicos e culturais. Ainda assim, nota-se que, em geral, os fatores mais estudados da obesidade são os biológicos relacionados ao estilo de vida, especialmente no que diz respeito ao binómio dieta e atividade física.

No que respeita aos laços sociais e comportamentais, podem contribuir para a incidência e agravamento do excesso de peso. Com efeito, indivíduos obesos com baixo nível socioeconómico reportam pior qualidade de vida relacionada com a saúde. Nos países ditos desenvolvidos, a prevalência da obesidade é maior nos indivíduos de estratos socioeconómicos mais desfavorecidos.

Prevenção e terapêutica

A mudança de estilo de vida, nomeadamente do padrão alimentar e de atividade física, são componentes imprescindíveis da terapêutica do excesso de peso, independentemente do grau e do recurso concomitante a fármacos ou à cirurgia da obesidade.

A boa notícia é que a obesidade é largamente prevenível através da adoção de estilos de vida saudáveis, pelo que a OMS recomendou aos governos a urgente implementação de programas que promovam a ingestão de alimentos saudáveis em detrimento daqueles com elevada densidade calórica e das bebidas açucaradas, a atividade física e ambientes escolares saudáveis.

Em Portugal, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável desenvolvido pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) adota um modelo de estratégia semelhante com vista a modificar comportamentos alimentares e promover hábitos alimentares saudáveis. Muitas das medidas sugeridas baseiam-se na necessidade de se modificarem as escolhas alimentares, através de educação para a saúde, tendo como alvos prioritários populações de mais baixo nível de literacia e mais baixos rendimentos. Por outro lado, menciona ainda medidas que condicionem a procura de alimentos menos saudáveis, das quais se destaca o agravamento do preço por forma a limitar a compra e a direcionar a indústria alimentar no sentido da reformulação dos seus produtos alimentares.

Impera assim a necessidade de colocar esta problemática na agenda dos decisores políticos para que medidas de combate à obesidade se tornem numa realidade transversal ao país, prevenindo-se, dessa forma, muitas das doenças crónicas não transmissíveis para as quais a obesidade é fator de risco importante, com especial destaque para o acidente vascular cerebral, primeira causa de mortalidade e incapacidade não traumática no nosso país.

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